A conjuntura brasileira dos últimos 10 anos pode
ser descrita assim: há menos pobres, mais emprego e um salário mínimo com
ganhos reais; há também um mercado consumidor mais amplo, mais facilidade para
investir e inflação, em certo sentido, sob controle; continuamos, entretanto,
um país sob o signo de uma desigualdade brutal, com índices de violência que
são um afronta à juventude, além disso nossos estudantes ainda não entendem o
que leem e grande parte do território nacional permanece sem acesso a água e esgoto.
Esse cenário, com seus avanços evidentes e impasses
desafiadores, se deve a diversos fatores, entre os quais muitos apontam para o
Partido dos Trabalhadores (PT). Ao subir ao poder com Lula da Silva, o partido
dá provas de que as bandeiras dos anos 1980 haviam ficado para trás. Compõe
chapa com megaempresário, alia-se a partidos de direita, expulsa membros
rebeldes, aprofunda um modus operandi que o transforma em uma das maiores
agremiações políticas do Brasil.
Para isso, o PT precisou, principalmente, cortar na
própria carne. O primeiro governo Lula, com a explosão do escândalo do mensalão
em 2005, abalou de modo definitivo a imagem de partido puro, sem erros ou
vícios. Assim, vai perdendo membros antigos, a maioria que decide sair por
conta própria, indisposta à guinada ao centro que só vai aprofundar ao longo da
década.
Aderido plenamente à institucionalidade e a
burocracia do governo, distribuiu cargos e benesses com a justificativa da
governabilidade. Com o tempo, embora haja ainda algum diálogo com os movimentos
sociais, a base do partido deixa de ser apoiada pela militância. Passa a não
mais depender da estrutura da militância para sobreviver como partido, pontua o
professor do departamento de Ciência Política da Universidade de Fortaleza
(Unifor), Francisco Moreira. O próprio financiamento que vai gerir o PT deixa
de ser dos militantes, como informa André Singer no livro Os sentidos do
Lulismo.
Mas é exatamente um partido disposto, ou melhor,
ávido pelo poder e pela manutenção dele que conseguiu reeleger Lula em 2006 e
garantir Dilma em 2010, uma figura até então inexpressiva publicamente. É esse
PT que faz inúmeras alianças para sobreviver que pôde realizar mudanças no
País. Internamente em disputa simbólica entre o PT que foi e o PT que é, o partido
mudou o Brasil, em muitos sentidos, para melhor. Mas não tanto quanto ele
próprio sofreu uma metamorfose, trocando o papel de oposição da ética por a de
um partido de massa, em profunda transformação.
ENTENDA A NOTÍCIA
O que o Brasil é hoje deve-se em boa medida ao
Partido dos Trabalhadores, que completa em 2013 10 anos à frente do Executivo
nacional. Há uma relação direta entre as mudanças do partido e as
transformações do País.
Fonte: O Povo